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Brincadeiras infantis podem ajudar na formação de cirurgiões.

Você seria capaz de amarrar uma série de nós quadrados ao redor do cabo de uma colher de chá sem mover a colher? E usar uma pinça para extrair uma uva do interior de um rolo de papel higiênico, sem romper a casca da uva nem tocar a parte interna do rolo? Os aspirantes a cirurgiões precisam de destreza suficiente para realizar tais tarefas.

Mas os integrantes do corpo docente das faculdades de medicina dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha observaram uma notável queda na destreza manual de estudantes e residentes. Alguns dizem que o problema é o menor número de cursos práticos e manuais nos ensinos fundamental e médio – artesanato, desenho e música. Outros dizem que a culpa é do tempo excessivo deslizando os dedos sobre telas em vez de desempenhando atividades que ajudem a desenvolver o controle motor fino, como a costura.

A restrição ao número de horas de trabalho dos residentes significa que eles acumulam menos experiência com operações. Foto: Michael Buholzer/Reuters

 

“Pense na diferença entre alguém que aprendeu a esquiar ainda na infância e alguém que tenha investido bastante tempo, possivelmente o mesmo tempo, esquiando como adulto”, disse Robert Spetzler, ex-diretor-executivo do Instituto Neurológico Barrow, em Phoenix, Arizona. 

“A elegância que desenvolvemos praticando desde a infância jamais será imitada por um adulto que aprende a esquiar”.

Spetzler conquistou a reputação de neurocirurgião virtuoso. Disse ter desenvolvido a destreza ao tocar piano quando criança e ao realizar cirurgias em ratos-do-deserto no ensino médio. Todos eles sobreviveram. “Quanto mais cedo começamos a nos dedicar a tarefas físicas e repetitivas, mais aprofundado e instintivo se torna o desenvolvimento das habilidades motoras”, disse ele.

Estudos revelam que, quanto maior o número de procedimentos realizados por um cirurgião, maior a probabilidade de sobrevivência de seus pacientes.

A introdução do limite máximo de carga horária de 80 horas semanais para os cursos de medicina dos EUA em 2003 teve como consequência indesejada limitar a disponibilidade dos residentes de cirurgia de participar das operações.

“Quando estava me formando, por bem ou por mal, eu trabalhava cerca de 120 horas por semana”, disse Thomas Scalea, cirurgião e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland, em Baltimore. “Hoje, os estudantes concluem suas residências com cerca de 900 casos operatórios. Eu tinha quase o dobro disso”.

Maria Siemionow, cirurgiã especializada em transplantes da Faculdade de Medicina da Universidade de Illinois, em Chicago, lembra de passar horas e horas na juventude recortando fotos de revistas e criando colagens. Além de desenvolverem a destreza, segundo ela, atividades como essa também exigem uma imaginação tridimensional, planejamento, paciência e precisão.

Maria acredita que os estudantes podem aprender a ser grandes cirurgiões, mas precisam de algumas habilidades como pré-requisito. Ela não é a única a se perguntar se não seria hora de reconsiderar os critérios de seleção dos estudantes de medicina para os cursos de cirurgia.

“Analisamos as médias deles e suas notas nas provas, sua produtividade na pesquisa e na autoria de estudos, mas, na realidade, ser um bom cirurgião nada tem a ver com esses pontos”, explicou Michael Lawton, sucessor de Spetzler no Instituto Neurológico Barrow. “O mais importante é seu manuseio dos instrumentos e sua maneira de lidar com os tecidos, bem como sua reação e capacidade de adaptação sob estresse”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

 

Fonte: Estadão

Kate Murphy, The New York Times

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